|    |  |   | CRIANÇAS no cais de Cáceres, MT, em prova do FIP – Festival Internacional de Pesca Esportiva |  Brenda Aloisi ainda não sabe dos prazeres e dificuldades da pesca  esportiva em água doce no Brasil, mas já tem noções a respeito. Ferrou  (fisgou) seu primeiro peixe – um lambarizinho de pouco mais de dez  centímetros – no ano passado, numa pescaria de fim de semana com a  família, numa baía do rio Paraguai, em Cáceres, MT.
 Para ela, foi um dia inesquecível: o coraçãozinho a mil com o puxão no  anzol, a mãe (Lilian) correndo para ajudá-la com a linha, os irmãos  (Alan, de 14 anos, e Gloria, de 10) gritando “a Brenda pegou um, a  Brenda pegou um”... Mais tarde, ainda aturdida, mas orgulhosa de sua  proeza, ela levou o peixinho para casa num baldinho com água.  Infelizmente, porém, o lambarizinho morreu dias depois. Desolada, ela  cavou um buraco no quintal e o enterrou solenemente.
 
 
    |  |   | COMPETIDORES acompanham lancha da Marinha na largada da prova de pesca embarcada |  No final de setembro, Brenda estava de novo à beira d’água, dessa vez  no cais da cidade. Era uma das 1.500 crianças participantes da prova  infanto-juvenil do 280 FIP – Festival Internacional de Pesca Esportiva,  considerado o maior torneio de pesca embarcada em água doce do mundo.  Atrai até 200 mil pessoas, mais que o dobro da população local, estimada  em 90 mil habitantes. Situada a 214 quilômetros de Cuiabá, Cáceres é um  dos principais portões de entrada do pantanal mato-grossense, vasto  mundo de 17 milhões de hectares com extensas planícies alagáveis,  cortado pelo rio Paraguai, um colosso com 2.621 quilômetros, 1.683 dos  quais em território brasileiro – nasce na chapada dos Parecis, perto de  Diamantino, ao norte de Cáceres, e flui lentamente até a fronteira do  Paraguai com a Argentina, para então formar o rio Paraná. Afluentes  portentosos, como o Jauru, o Sepotuba, o Cuiabá, o Negro, o São  Lourenço, o Taquari, o Miranda e o Aquidauana, ajudam-no a drenar a  região, considerada uma das três principais áreas de pesca em água doce  do país – as outras são a Amazônia, reduto dos grandes tucunarés bons de  briga e a região do Araguaia, que abrange parte dos estados do  Tocantins, Pará, Goiás e Mato Grosso.
 No total, o rio Paraguai acolhe as águas de 132 tributários, hábitat  de 263 espécies de peixes de todos os tipos, tamanhos, formatos, cores e  hábitos. Alguns, menores que o lambari de Brenda, cuja morte a fez  chorar; outros, gigantes do porte do jaú, capaz de atingir 1,50 metro e  120 quilos. No meio deles, uma profusão de pacus, pintados, cacharas,  dourados, pirara ras, piranhas, piavuçus, barbados, curimbatás,  piraputangas, jurupocas, cascudos, piaus, jurupenséns, matrinxãs, etc.
 
    |  |   | BRENDA ALOISI, durante a prova infantil em Cáceres |  Lamentavelmente, Brenda não repetiu em Cáceres a façanha de estréia  no mundo da pesca, embora usasse equipamento similar: caniço de bambu,  linha 0,30 mm, chumbinho e anzol 2. Também, pudera! A concorrência era  enorme, a gritaria de incentivo dos pais, maior ainda, sem falar na  confusão de varas, linhas e iscas – massinha de pão, grãos de milho e  soja. Dividida em duas etapas (a primeira, para crianças de 4 a 8 anos; a  segunda, de 9 a 12 anos), o torneio infanto-juvenil é uma das  principais atrações do FIP. Há outras: pesca em canoa, vôlei de praia,  futebol de areia, truco espanhol, bozó, feira de artesanato, shows  musicais, etc.
 A maior, no entanto, é a prova de pesca motorizada, realizada das oito  horas da manhã até as quatro da tarde, no último dia do festival. Neste  ano, largaram 320 barcos com motorização de 15 a 40 HP, conduzidos até o  ponto de pesca – um trecho de quase dois quilômetros do Paraguai, entre  a “Baía da Palha” e a “Boca do Caiçara” – por uma lancha da Marinha.  Cada equipe compõe- se por três pescadores e um piloteiro. No entanto,  há quem prefira conduzir o próprio barco, como Gilmar Brunelo dos Reis,  líder da equipe Karajás, bicampeã do campeonato estadual, realizado em  35 etapas – a última foi a de Cáceres, coincidindo com o FIP.
    |  |   | GILMAR REIS lança tarrafa na Baía da Caiçara em busca de iscas: “O segredo é testar os pontos de pesca” |  As regras do festival valem para o campeonato estadual: o ponto de  pesca é de livre escolha. A distância mínima entre as embarcações é de  cinco metros. Em barco apoitado não se mexe mais. Quem trocar de lugar  perde os pontos, sujeitando-se à desclassificação. Vence a equipe com  maior pontuação. Os pontos são atribuídos conforme o grau de  dificuldade, o tamanho e o peso do peixe. As espécies mais comuns  geralmente valem menos e as raras, mais. Como os espécimes ocorrem de  forma diversa de uma região para outra, a pontuação varia. Em Cáceres, o  mais difícil de fisgar é o dourado; no rio Araguaia, a pirarara; no  Teles Pires, o matrinxã, e assim sucessivamente.
 
    |  |   | OS REIS, contentes com os dois pintados ferrados no Paraguai: “Peixe faz carreiro igualzinho o boi” |  A norma mais importante, porém, é soltar o peixe após a medição – os  ficais ficam navegando entre os competidores, trajando camisetas com  cores diferentes das dos pescadores. Basta apitar para chamá-los. A cada  peixe, um apitaço. A cada apito, uma festa. Muitos participam apenas  pela farra. Passam boa parte do tempo divertindo- se, bebendo ou comendo  – a bóia é parte da tralha ou preparada à bordo. A maioria, porém, leva  a competição à sério, o que não exclui brincadeiras – coisa de  pescador. Em Cáceres, ferraram 472 peixes, o maior dos quais um jaú de  1,25 metro. A equipe Pantaneira, que o fisgou, ganhou uma moto Suzuki  125. A Soteco II, vencedora da prova, levou uma lancha 500 com motor  Yamaha 25 HP e carreta-reboque. Os Karajás não se saíram muito bem no  FIP, mas ganharam um carro zero quilômetro pelo título estadual – já  haviam acumulado pontos nas etapas anteriores. FONTE G1
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