Conscientização ambiental, novos adeptos, equipamentos sofisticados e torneios especializados, além da paixão natural pela pesca, impulsionam o setor no país
Texto José Augusto Bezerra
Fotos Ernesto de Souza
Brenda Aloisi ainda não sabe dos prazeres e dificuldades da pesca esportiva em água doce no Brasil, mas já tem noções a respeito. Ferrou (fisgou) seu primeiro peixe – um lambarizinho de pouco mais de dez centímetros – no ano passado, numa pescaria de fim de semana com a família, numa baía do rio Paraguai, em Cáceres, MT.
No final de setembro, Brenda estava de novo à beira d’água, dessa vez no cais da cidade. Era uma das 1.500 crianças participantes da prova infanto-juvenil do 280 FIP – Festival Internacional de Pesca Esportiva, considerado o maior torneio de pesca embarcada em água doce do mundo. Atrai até 200 mil pessoas, mais que o dobro da população local, estimada em 90 mil habitantes. Situada a 214 quilômetros de Cuiabá, Cáceres é um dos principais portões de entrada do pantanal mato-grossense, vasto mundo de 17 milhões de hectares com extensas planícies alagáveis, cortado pelo rio Paraguai, um colosso com 2.621 quilômetros, 1.683 dos quais em território brasileiro – nasce na chapada dos Parecis, perto de Diamantino, ao norte de Cáceres, e flui lentamente até a fronteira do Paraguai com a Argentina, para então formar o rio Paraná. Afluentes portentosos, como o Jauru, o Sepotuba, o Cuiabá, o Negro, o São Lourenço, o Taquari, o Miranda e o Aquidauana, ajudam-no a drenar a região, considerada uma das três principais áreas de pesca em água doce do país – as outras são a Amazônia, reduto dos grandes tucunarés bons de briga e a região do Araguaia, que abrange parte dos estados do Tocantins, Pará, Goiás e Mato Grosso. No total, o rio Paraguai acolhe as águas de 132 tributários, hábitat de 263 espécies de peixes de todos os tipos, tamanhos, formatos, cores e hábitos. Alguns, menores que o lambari de Brenda, cuja morte a fez chorar; outros, gigantes do porte do jaú, capaz de atingir 1,50 metro e 120 quilos. No meio deles, uma profusão de pacus, pintados, cacharas, dourados, pirara ras, piranhas, piavuçus, barbados, curimbatás, piraputangas, jurupocas, cascudos, piaus, jurupenséns, matrinxãs, etc.
Lamentavelmente, Brenda não repetiu em Cáceres a façanha de estréia no mundo da pesca, embora usasse equipamento similar: caniço de bambu, linha 0,30 mm, chumbinho e anzol 2. Também, pudera! A concorrência era enorme, a gritaria de incentivo dos pais, maior ainda, sem falar na confusão de varas, linhas e iscas – massinha de pão, grãos de milho e soja. Dividida em duas etapas (a primeira, para crianças de 4 a 8 anos; a segunda, de 9 a 12 anos), o torneio infanto-juvenil é uma das principais atrações do FIP. Há outras: pesca em canoa, vôlei de praia, futebol de areia, truco espanhol, bozó, feira de artesanato, shows musicais, etc.
As regras do festival valem para o campeonato estadual: o ponto de pesca é de livre escolha. A distância mínima entre as embarcações é de cinco metros. Em barco apoitado não se mexe mais. Quem trocar de lugar perde os pontos, sujeitando-se à desclassificação. Vence a equipe com maior pontuação. Os pontos são atribuídos conforme o grau de dificuldade, o tamanho e o peso do peixe. As espécies mais comuns geralmente valem menos e as raras, mais. Como os espécimes ocorrem de forma diversa de uma região para outra, a pontuação varia. Em Cáceres, o mais difícil de fisgar é o dourado; no rio Araguaia, a pirarara; no Teles Pires, o matrinxã, e assim sucessivamente.
A norma mais importante, porém, é soltar o peixe após a medição – os ficais ficam navegando entre os competidores, trajando camisetas com cores diferentes das dos pescadores. Basta apitar para chamá-los. A cada peixe, um apitaço. A cada apito, uma festa. Muitos participam apenas pela farra. Passam boa parte do tempo divertindo- se, bebendo ou comendo – a bóia é parte da tralha ou preparada à bordo. A maioria, porém, leva a competição à sério, o que não exclui brincadeiras – coisa de pescador. Em Cáceres, ferraram 472 peixes, o maior dos quais um jaú de 1,25 metro. A equipe Pantaneira, que o fisgou, ganhou uma moto Suzuki 125. A Soteco II, vencedora da prova, levou uma lancha 500 com motor Yamaha 25 HP e carreta-reboque. Os Karajás não se saíram muito bem no FIP, mas ganharam um carro zero quilômetro pelo título estadual – já haviam acumulado pontos nas etapas anteriores. FONTE G1 |
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